O NOSSO PATRONO

antonio-aleixoPor muito se ter pensado
Numa sociedade sã,
Já hoje o mundo é diferente,
Tão diferente do passado,
Como o mundo de amanhã
Será do mundo presente.

António Aleixo

(Óleo da autoria de Luís Furtado)

António Aleixo, o poeta do povo, de seu nome completo António Fernandes Aleixo, nasceu em Vila Real de Santo António a 18 de Fevereiro de 1899, vindo a falecer aos 50 anos em Loulé, sua cidade adoptiva e terra natal de seus pais e filhos. Homem simples mas de personalidade vincada, pastor de rebanhos, tocador, cantador e exímio contador de histórias, figura marcante de feiras e mercados, cauteleiro anunciante de uma sorte que nunca teve, escondia o vulto notável de um poeta eminente. A sua modesta escolaridade e a sua preparação intelectual não lhe deram qualificação para poder ser considerado um poeta culto, mas ficou conhecido como “O poeta do povo”, passando à história literária sem ter escrito livros. António Aleixo legou-nos versos com uma correcção de linguagem e, sobretudo, uma expressão lacónica e muito pessoal de uma amarga filosofia aprendida na escola impiedosa da sua própria vida. Só a partir da década 60 a sua obra teve divulgação nacional, muito por força do empenho do seu grande admirador, Tóssan, António Fernando Santos, também ele algarvio de Vila Real de Santo António que deu a conhecer a todo o país a obra do Aleixo. Hoje é considerado, por muitos estudiosos, o mais notável dos poetas populares portugueses mantendo-se actuais as críticas e sátiras implícitas na sua obra, em especial “Este livro que vos deixo” e “Inéditos” ou nos “Auto do Curandeiro” e “Auto da Vida e da Morte”.

Alguns dados biográficos

1899 – 18 de Fevereiro – às 4 horas da manha, nasce António Aleixo, na freguesia e concelho de Vila Real de Santo António, filho de José Fernandes Aleixo, tecelão, e de Isabel Maria Casimiro, de ocupação domestica, naturais, ele da freguesia de S. Clemente, vila e concelho de Loulé, e ela de Vila Real de Santo António, onde se receberam e são paroquianos e residentes na Rua do Príncipe, neto paterno de António Fernandes Aleixo e de Francisca de Jesus e materno de Silvestre Casimiro e de Maria da Encarnação. Foram padrinhos Domingos Samídio, marítimo, casado, e sua filha, Luísa SamÍdio, solteira. Foi baptizado aos 24 dias do mês de Junho do ano de 1899, na Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Encarnação de Vila Real de Santo António

1906 –
Os pais de António Aleixo transferem-se para Loulé
1907 –
António Aleixo começa a frequentar a escola. Aprende as primeiras letras
1909 –
Depois de dois anos de escola, primeira revelação do talento de improvisador a cantar as janeiras
1912 –
Aprendiz de tecelão, o oficio do pai. De 1912 a 1919 é a pratica do ofício. Como cantador de improvisos, em festas, por convite de amigos, às vezes retribuído, vai treinando o seu jeito para versejar (ou versar, como ainda hoje se diz, na gíria popular dos poetas espontâneos)
1919 –
Apurado para o serviço militar, em Faro
1920 –
18 de Janeiro – soldado no Regimento de Infantaria 4
29 de Abril –
dado como pronto da instrução de recruta- passa à classe de soldado aprendiz de corneteiro
1922 –
Alistamento na polícia, em Faro. É o guarda n.º44 um aumentado ao efectivo deste corpo de policia, como guarda de 2ª, em 7 de Julho, sendo comissário o cidadão Carlos Augusto Lyster Franco, professor e pintor
1923 –
27 de Novembro – louvado pelo mesmo comissário de polícia
1924 –
Casamento, em Loulé
1928 –
1930 – Ida para França como servente de pedreiro
1931 –
Regresso a Portugal
1931 – 1933 –
Residência em Loulé. É cauteleiro e vende gravatas
1937 –
Classificado em 4º lugar nuns jogos florais em Faro, no Ginásio Clube
1939 – 1940 –
Um amigo do poeta, José Rosa Madeira, junta algumas quadras, em duas folhas de papel. Vão ser o núcleo do seu primeiro livro Quando Começo a Cantar…
1940 –
Operação ao estômago, em Lisboa
1943 –
Lançamento do primeiro livro, começando a vender no dia 25 de Abril, domingo de Páscoa, por iniciativa do Circulo Cultural do Algarve

– Agravamento do estado de saúde. A tuberculose obriga a internamento, em Coimbra, no Sanatório dos Covões
– Maio – Primeira referência à publicação de Quando Começo a Cantar… em artigo de Cândido Marrecas no jornal de Beja

1943 a 1949 – Permanência no Sanatório, com curtas visitas família, até que, no Outono de 1949, regressa para ficar.
16 de Novembro de 1949 –
Morte de António Aleixo. O poeta fica para sempre…

Obras António Aleixo

QUANDO COMEÇO A CANTAR… – 1ª Edição, Faro, 1943; 2ª edição, Coimbra, 1948; 3ª edição, Lisboa, 1960
INTENCIONAIS –
1ª EDIÇÃO, Faro, 1945; 2ª edição, Lisboa, 1960
AUTO DA VIDA E DA MORTE (1 acto) –
1ª edição, Faro, 1948; 2ª edição, Faro, 1968
AUTO DO CURANDEIRO (1 acto) –
1ª edição, Faro, 1949; 2ª edição, Faro, 1964
ESTE LIVRO QUE VOS DEIXO…
Volume I, 18ª EDIÇÃO, Lisboa, 2003
ESTE LIVRO QUE VOS DEIXO…
Inéditos – Volume II , 13ª edição, Lisboa, 2003
INÉDITOS –
1ª edição, Loulé, 1978; 2º edição, Loulé, 1979

Algumas Quadras

A vida é uma ribeira;
Caí nela, infelizmente…
Hoje vou, queira ou não queira,
Aos trambolhões na corrente.

Crês que ser pobre é não ter
Pão alvo ou carne na mesa?
Mas é pior não saber
Suportar essa pobreza!

O luxo valor não tem
Nos que nascem p’ra pequenos:
Os pobres sentem-se bem
Com mais pão luxo a menos!

A esmola não cura a chaga;
Mas quem a dá não percebe
Que ela avilta, que ela esmaga
O infeliz que a recebe.

A ninguém faltava o pão,
Se este dever se cumprisse:
- Ganharmos em relação
Com o que se produzisse.

O homem sonha acordado;
Sonhando a vida percorre…
E desse sonho dourado
Só acorda, quando morre!

Quantas, quantas infelizes
Deixam de ser virtuosas…
E depois são seus juízes
Os que as fazem criminosas!...

Sem que o discurso eu pedisse,
Ele falou; e eu escutei.
Gostei do que ele não disse;
Do que disse não gostei.

Tu, que tanto prometeste
Enquanto nada podias,
Hoje que podes – esqueceste
Tudo quanto prometias…

Chegasses onde pudesses;
Mas nunca devias rir
Nem fingir que não conheces
Quem te ajudou a subir!

Os que bons conselhos dão
Às vezes fazem-me rir,
- Por ver que eles próprios são
Incapazes de os seguir.

Mesmo que te julguem mouco
Esses que são teus iguais,
Ouve muito e fala pouco:
Nunca darás troco a mais!

Entra sempre com doçura
A mentira, pr’a agradar;
A verdade entra mais dura,
Porque não quer enganar.

Se te censuram, estás bem,
P’ra que a sorte te perdure;
Mal de ti quando ninguém
Te inveje nem te censure!

in site da Fundação António Aleixo

 

Ver Programa da RTP Memória sobre o poeta

Trailer do documentário "ANTÓNIO ALEIXO, na terra acho na terra deixo"


Go to top